“Se eu não fizesse tudo por você, onde é que você estaria?”
“Eu cuido de você o tempo todo, mas você nunca repara.”
O que parece carinho às vezes carrega uma ponta de veneno.
E o que nasce para proteger pode, com o tempo, virar corrente.
O sistema CARE, na neurociência afetiva de Jaak Panksepp, é a base do impulso de cuidar: nutrir, proteger, manter perto. É o afeto que sustenta a maternagem, a amizade fiel, o companheirismo silencioso de quem segura a mão quando o mundo pesa.
Mas como todo afeto primário, o CARE é força bruta. Ele não vem “pronto para uso”: precisa ser educado, equilibrado, reconhecido. Sem isso, o que poderia ser um colo vira prisão.
No consultório, já vi CARE se transformar em competição dentro de relacionamentos. Casais que contabilizam quem fez mais pelo outro, irmãos que disputam quem cuida mais dos pais, parceiros que usam o “eu te protejo” como moeda de poder. Ironicamente, no fim, ninguém se sente verdadeiramente cuidado.
O CARE disfuncional pode se manifestar de formas sutis:
Cuidado usado como chantagem emocional: “Depois de tudo que fiz por você…”
Proteção que sufoca: impedir o outro de crescer “para o bem dele”.
Invasão disfarçada de zelo: decidir pelo outro sem perguntar.
Competição no afeto: transformar gestos de cuidado em placar.
O efeito é corrosivo. Quem cuida dessa forma não alimenta, controla. Quem recebe esse “cuidado” sente culpa, dívida ou humilhação. É como se o afeto viesse com um contrato não declarado.
Para recuperar o lado saudável do CARE, é preciso libertar o cuidar do ego.
É oferecer e receber sem transformar o gesto em moeda de troca.
É entender que cuidar não é se anular, e ser cuidado não é perder autonomia.
No sistema floral de Bach, algumas essências podem ajudar nesse processo:
Chicory — para soltar o controle e o apego possessivo.
Vervain — para suavizar o excesso de zelo e intensidade.
Walnut — para ajudar a pessoa a criar limites protetores.
Centaury — para quem cuida demais e esquece de si.
O CARE saudável não aprisiona: ele abre espaço para que o outro exista por inteiro, sem medo de decepcionar ou de “ficar devendo” amor.
O cuidado verdadeiro é aquele que não é percebido como dívida, mas como liberdade — um gesto que ampara sem prender, que oferece sem cobrar, que cuida… e deixa ir.